1.
Cabimento
Necessitando alguém que seja declarada judicialmente a
incapacidade de uma pessoa capaz (art. 5º, CC), a fim de que lhe seja nomeado
um curador, com escopo de que o represente nos atos da vida civil, deve fazer
uso da ação de interdição.
O art. 1.767 do Código Civil enumera as pessoas que estão
sujeitas a curatela, em razão, de modo geral, da falta de discernimento para
cuidar dos atos da vida civil. Todavia, o próprio Código, no art. 1.780, traz
uma importante exceção, ao permitir que o enfermo ou portador de deficiência
física, mesmo na posse plena de suas faculdades mentais, requeira que o juiz
lhe nomeie curador para cuidar de todos ou alguns de seus negócios ou bens.
2.
Base Legal
O direito requer a interdição de uma pessoa, normalmente
um parente próximo, encontra amparo nos arts. 1.767 e seguintes do Código Civil
de 2002.
3.
Procedimento
O CPC, arts. 1.177 e seguintes, prevê procedimento
especial para essa ação, qual seja:
- Petição inicial;
- Intimação do representante do Ministério
Público para que acompanhe o feito até o final;
- Citação;
- Audiência para interrogatório do
interditando;
- Contestação, prazo de cinco dias;
- Perícia técnica;
- Audiência de instrução e julgamento;
- Sentença;
4.
Foro Competente
A ação de interdição deve ser proposta, de regra, no foro
do domicílio do interditando, consoante o art. 94 do Código de Processo Civil.
A jurisprudência tem confirmado a competência, também, do
foro do local onde o interditando se encontra internado, desde que a internação
tenha caráter permanente.
5.
Questões a serem respondidas pelo Autor
Com escopo de viabilizar o melhor resultado possível para
o constituinte, o Advogado deve conversar detalhadamente com ele sobre o caso,
procurando obter respostas para as seguintes questões, entre outras:
- Qual é o vínculo de parentesco entre o autor
e o interditando?
- Qual é a origem e a natureza dos problemas do
interditando?
- Quais são as dificuldades do interditando?
- O interditando já esteve internado? Durante quanto
tempo?
- O interditando toma remédios regularmente?
- Quais fatos demonstram os problemas do
interditando?
- Qual é a idade do interditando?
- O interditando possui bens? Quais? Qual o
valor?
- O interditando possui rendas?
6. Documentos
O autor deverá ser orientado a fornecer ao Advogado, em
cópia autenticada, os seguintes documentos, entre outros:
- Certidão de casamento, ou nascimento, célula
de identidade do autor;
- Certidão de casamento, ou nascimento, e
cédula de identidade do interditando;
- Declaração médica, ou perícia médica, sobre
os problemas do interditando;
- Comprovantes referentes a internações;
- Cópia de documentos que demonstrem a incapacidade
do interditando;
- Receitas médicas
7.
Provas
Normalmente, a prova-chave nessa ação é a perícia médica;
contudo, é comum o uso de outras provas, tais como a juntada de documentos,
laudos, oitiva de testemunhas, inspeção judicial etc.
Na inicial, o autor deve, ainda, provar sua legitimidade para
requerer a interdição, no caso, juntando documento que prove o vínculo de
parentesco.
8.
Contestação
No mérito, a defesa lógica nessa ação é a negação da
imputada incapacidade civil, podendo o interditando contrapor as provas
produzidas, apresentando outras, tais como laudos e pareceres médicos que
atestem sua capacidade mental.
9.
Valor da Causa
Não havendo questões patrimoniais, na ação de interdição,
que possam servir de parâmetro para a fixação do valor da causa, o autor,
ciente da obrigatoriedade da atribuição de valor à causa (art. 258, CPC), tem
autonomia para fazê-lo segundo critérios subjetivos próprios, desde que o valor
imputado seja compatível com as circunstâncias gerais do caso. Tenho como norma
pessoal atribuir a causas desse tipo o valor equivalente a dois ou três
salários mínimos; porém, como já dito, cabe ao autor, por meio de seu Advogado,
analisar as circunstâncias pessoais do caso antes de decidir.
10.
Despesas
Não constando da petição inicial requerimento de justiça
gratuita (Lei nº 1.060/50), o autor, antes de ajuizar a ação, deve proceder ao
recolhimento das custas processuais, que, de regra, envolvem a taxa judiciária,
o valor devido pela juntada do mandato judicial e as despesas com diligências
do Oficial de Justiça. Os valores dessas custas variam de Estado para Estado; o
Advogado que tiver dúvida sobre seu montante e forma de recolhimento deve
consultar a subseção da OAB em sua comarca.
11.
Dicas
·
A apresentação de laudo médico com a inicial
pode facilitar a obtenção da curatela provisória;
- Caso seja difícil a locomoção do
interditando, o Advogado, na inicial, deve indicar tal fato, requerendo
inspeção judicial;
- Cessando as causas que justificaram a
interdição, o próprio interditando poderá fazer petição ao juízo que a decretou
requerendo o levantamento;
- No caso de falecimento do curador ou na
hipótese de este não mais ter condições de exercer o encargo, o interessado
pode peticionar ao juízo que decretou a interdição requerendo a substituição.
12.
Modelo de Petição de Ação de Interdição
Modelo
Genérico:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ
DE DIREITO DA COMARCA DE __________________
{NOME
AUTOR}, {NACIONALIDADE}, {ESTADO CIVIL}, {PROFISSÃO}, portador(a) da carteira
de identidade n.º {CARTEIRA DE IDENTIDADE} e do CPF n.º {CPF}, residente e domiciliado(a)
no(a) {ENDEREÇO}, por seu advogado firmado in fine (mandato incluso), com
escritório na (informar endereço completo com CEP), onde recebe intimações, vem
à presença de Vossa Excelência, ajuizar AÇÃO DE INTERDIÇÃO em face de {NOME
RÉU}, {NACIONALIDADE}, {ESTADO CIVIL}, {PROFISSÃO}, portador(a) da carteira de
identidade n.º {CARTEIRA DE IDENTIDADE} e do CPF n.º {CPF}, residente e
domiciliado(a) no(a) {ENDEREÇO}, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:
DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA
Ab
initio, sob as penas da Lei, DECLARA o pólo ativo que não está em condições de
arcar com as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do
sustento próprio e/ou de sua família.
Por
esse motivo, respaldado nas garantias constitucionais do acesso à justiça e da
assistência jurídica integral (art. 5.º, incisos XXXV e LXXIV, respectivamente,
da CF), e, ainda, com base na Leis Federais n.º 1.060/50 (LAJ) e 7.115/83, requer
o benefício da JUSTIÇA GRATUITA.
I – DOS FATOS
A
parte requerente é INFORMAR O PARENTESCO (caso não
exista parentesco a ação deverá ser ajuizada pelo Ministério Público) da
parte interditanda e está apta para assumir o encargo de curatela (CASO EXISTA ATESTADO DE SANIDADE FÍSICA E MENTAL DA PARTE REQUERENTE:
conforme atestado médico de sanidade física e mental, em anexo).
INFORMAR
SE A PARTE REQUERENTE CUIDA DO INTERDITANDO: Exemplo: Cumpre-se informar que os
pais do interditando residem no Estado do Maranhão. Em decorrência da idade,
encaminharam o filho para a residência da autora, sendo esta responsável pelo irmão
por mais de três anos.
Há
necessidade da presente interdição, pois parte interditanda não possui o
necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil, sendo incapaz
de reger sua pessoa e seus bens, porquanto portadora de deficiência mental (ou
enfermidade), diagnosticada como CID-10 ????? (verificar na listagem o que significa),
conforme cópia de laudo e/ou atestado e/ou perícia médica em anexo. Tal
enfermidade tem caráter definitivo.
Insta
informar que o interditando (informar estado civil, se possui filhos,
especificando-os). Outrossim, não possui bens (se houver, também
especificá-los, por exemplo, benefício previdenciário).
II – DA NECESSIDADE DE
ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
A
parte autora requer, também, a antecipação dos efeitos da tutela pretendida,
nomeando-a curadora provisória do(a) interditando(a), porquanto entende que já
há nos autos prova inequívoca capaz de convencimento da credibilidade das
alegações contidas nesta exordial.
Além
disso, a incapacidade do interditando(a) de praticar os ordinários atos da vida
civil configura a necessidade do uso da aplicação desta medida de urgência.
Ressalte-se
que não há qualquer perigo de irreversibilidade do provimento antecipado, pois
o autor, como curador, estará sempre sujeito a prestação de contas e
destituição em caso de má gestão e administração dos bens e interesses do interditando.
III – DOS PEDIDOS
Ante
o exposto, com fundamento no art. 1.767 e seguintes do CC/02 e art. 1.177 e
seguintes do CPC, requer:
Deferimento
do pedido de antecipação de tutela.
Intimação
do representante do Ministério Público para acompanhamento do feito.
Citação
do interditando(a), nos termos no art. 1.181 do CPC, ocasião em que também
deverá ser intimado(a) para comparecimento à audiência de interrogatório.
Após
escoamento do prazo de impugnação do pedido, seja nomeado perito para proceder
exame de sanidade mental do interditando(a), caso Vossa Excelência entenda
necessário. Desde já, informa que não fará uso de assistente técnico,
acrescentando, em anexo, os quesitos cujas respostas entende necessárias.
Encerrada
a instrução, seja o presente pedido julgado procedente, com a decretação da
interdição do polo passivo e nomeação da parte requerente no encargo de
curador, com limites de atuação definidos em sentença, bem como o cumprimento
das diligências previstas no art. 1.184 do CPC.
Outrossim,
que sejam observadas todas as Por fim, protesta pela oportunidade de produção
de todas as provas em direito admitidas.
Valor
da causa R$ XXXXXXX,XXX.
Nestes
termos, pede deferimento.
{LOCAL},
{DATA}.
{NOME DO ADVOGADO} – {OAB}
RELAÇÃO DE QUESITOS A SEREM
QUESTIONADOS EM EXAME PERICIAL:
1. O interditando é portador
de alguma enfermidade ou debilidade física e mental?
2. Caso a resposta do item 1
seja positiva, a patologia apresentada é capaz de impedir que o interditando
possua o necessário discernimento para os atos da vida civil? O impedimento é
total ou parcial? Se parcial, para quais atos?
3. Outrossim, a incapacidade
apresentada possui caráter transitório ou permanente?
Relação de documentos: ...
Modelo
2
Caso
Prático: Mulher requerendo interdição do marido que sofreu um derrame, com
pedido de nomeação de curador especial e inspeção judicial.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR
JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL/FAMÍLIA DA COMARCA DE ___, ESTADO DE ___
AUTORA, nacionalidade, estado civil, profissão, portadora
do RG..., e do CPF ..., residente e domiciliada no (endereço completo com CEP),
por seu advogado firmado in fine (mandato incluso), com escritório na (informar
endereço completo com CEP), onde recebe intimações, vem à presença de Vossa
Excelência, propor Ação de Interdição, observando-se o procedimento previsto
nos artigos 1.177 a 1.186 do Código de Processo Civil, em face do Interditando,
nacionalidade, estado civil, profissão, portador do RG ..., e do CPF ...,
residente e domiciliado na (endereço completo com CEP), pelos motivos de fato e
de direito que a seguir expões:
O interditando, marido da autora, sofreu um forte derrame
no último dia ..., encontrando-se internado, desde então, no Hospital... No
estado em que se encontra, o interditando encontra-se totalmente
impossibilidade para prática do atos da vida civil por si só, consoante
atestado médico acostado.
O estado de saúde do interditando é grave, não havendo
previsão de alta, sendo certo que, no caso de sobrevivência, haverá danos
irreparáveis. Com escopo de cuidar dos interesses do interditando e da família,
a autora necessita da tutela judicial, vez que o réu encontra-se incapaz de
firmar procuração.
O interditando não possui bens, mas estava regularmente
empregado, como se vê dos documentos anexos.
Ante o exposto, considerando que a pretensão do autor
encontra respaldo no art. 1.767, I, do Código Civil, requer:
a) os benefícios da justiça gratuita, vez que se declara
pobre no sentido jurídico do termo, conforme declaração anexa;
b) a intimação do ilustre representante do Ministério
Público para que acompanhe o feito ad finem;
c) a concessão, in limine litis, da curatela provisória,
mediante compromisso;
d) a nomeação de “curador” para receber a citação e para
representar os interesse do interditando neste feito, vez que ele não reúne
condições pessoais para tanto, oficiando-se, para tanto, à DPE pra que nomeie
advogado para que assuma o referido múnus;
e) a citação do réu, na pessoa do seu curador, para que,
querendo, ofereça resposta no prazo legal, sob pena de se sujeitar aos efeitos
da revelia;
f) seja o interrogatório feito em “inspeção judicial”,
vez que o interditando não pode se locomover (não anda, não se levanta), nem a
autora possui condições de contratar uma ambulância para leva-lo até a sede do
juízo;
g)
seja declarada a interdição do réu, nomeando-se como seu curador a autora,
expedindo-se o edital e mandado referidos no artigo 1.184 do Código de Processo
Civil.
Provará
o que for necessário, usando de todos os meios permitidos em direito, em
especial pela juntada de documentos, perícia médica, perícia social e oitiva de
testemunhas.
Dá
ao pleito o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).
Termos
em que pede deferimento
Local,
data
Advogado
OAB nº...
Modelo
3.
Caso
Prático: Mãe requerendo interdição da filha que sofre de problemas mentais.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR
JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL/FAMÍLIA DA COMARCA DE ___, ESTADO DE ___
AUTORA, nacionalidade, estado civil, profissão, portadora
do RG..., e do CPF ..., residente e domiciliada no (endereço completo com CEP),
por seu advogado firmado in fine (mandato incluso), com escritório na (informar
endereço completo com CEP), onde recebe intimações, vem à presença de Vossa
Excelência, propor Ação de Interdição, observando-se o procedimento previsto
nos artigos 1.177 a 1.186 do Código de Processo Civil, em face do Interditando,
nacionalidade, estado civil, profissão, portador do RG ..., e do CPF ...,
residente e domiciliado na (endereço completo com CEP), pelos motivos de fato e
de direito que a seguir expões:
A
interditanda, filha da autora, sofre de sérios problemas mentais, estando em
tratamento há muitos anos, fato que a impossibilita para praticar os atos da
vida civil por si só, vez que não é capaz de discernir o certo do errado,
consoante demonstram documentos anexos.
Desde
o seu nascimento, ainterditanda se encontra sob os cuidados da autora.
A
interditanda não possui bens ou rendas.
Ex
positis, considerando que a pretensão da autora encontra respaldo no art.
1.767, I, do Código Civil, requer:
a) os benefícios da justiça gratuita, vez que se declara
pobre no sentido jurídico do termo, conforme declaração anexa;
b) a intimação do ilustre representante do Ministério
Público para que acompanhe o feito ad finem;
c) a concessão, in limine litis, da curatela provisória,
mediante compromisso;
d) a citação da ré, com os benefícios do §2º do art. 172
do CPC, pra que compareça em audiência, a ser designada pelo Juízo, onde deverá
ser interrogada, após o que, se quiser, poderá oferecer resposta no prazo
legal, sob pena de se sujeitas aos efeitos da revelia;
g)
seja declarada a interdição da ré, nomeando-se como seu curador a autora,
expedindo-se o edital e mandado referidos no artigo 1.184 do Código de Processo
Civil.
Provará
o que for necessário, usando de todos os meios permitidos em direito, em
especial pela juntada de documentos, perícia médica, perícia social e oitiva de
testemunhas.
Dá
ao pleito o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).
Termos
em que pede deferimento
Local,
data
Advogado
OAB nº...